quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O GOVERNO DA RUA DE ANTÓNIO COSTA OU A "EFECTIVA CONFUSÃO" DE MÁRIO SOARES
(Texto escrito a 10 de Novembro de 2015)

António Costa consumou hoje a maior golpada da "Real politik" à portuguesa desde o 25 de Abril de 74!

Com efeito, aquele que foi o maior derrotado da noite eleitoral de 4 de Outubro, orquestrou pela via parlamentar uma legitimidade formal para governar, ignorando ostensivamente a vontade popular, negando à aliança vencedora a possibilidade de cumprir o mandato que lhe foi conferido pelo povo.
De uma só assentada, o maior cínico da política portuguesa do pós 25 de Abril, a quem já chamei de "eterno táctico", para não lhe chamar o grande maquiavel, pôs em causa alguns dos pilares fundamentais da democracia portuguesa, que sempre foram respeitados ao longo de 40 anos,

Nesta esquizofrenia política em que estamos metidos importa identificar os vencedores, os cínicos e os idiotas úteis;

1. Os vencedores: são obviamente o BE e o PCP que, com 10% e menos de 8% respectivamente, poderão cada um, a seu belo prazer, por via da assinatura de acordos separados e mutuamente independentes, condicionar a política do Governo do PS, sem se comprometerem com o ónus da governação. A não participação destes 2 partidos no Governo é a prova cabal da "ingenuidade do PS" neste processo, deixando a rua livre para o leilão demagógico dos 2 partidos que supostamente o apoiam no governo! A ausência de compromisso efectivo na não rejeição de um Governo do PS nos próximos 4 anos é a prova óbvia de toda a encenação dos supostos acordos de governação com BE e PCP! Quem é que António Costa pretende enganar?

2. Os cínicos: são António Costa e os seus acólitos do secretariado que, sabendo da embrulhada em que nos estão a meter, tentam salvar a pele distribuindo poder aos esfomeados do mesmo dentro do PS, caucionando dessa forma a sua permanência na liderança daquele que foi o partido de referência da democracia portuguesa, e que desenhou o caminho dos portugueses para a liberdade e para a Europa, precisamente contra os radicalismos da esquerda mãe do BE (UDP, PSR e outros afins) e sobretudo do organizado e pragmático PCP!

3. Os idiotas úteis: aqueles que no PS acreditam na boa fé do PCP e do BE na construção de uma solução de governo sustentável para Portugal nos próximos 4 anos e ainda não perceberam que são apenas a barriga de aluguer de um "Governo da rua" que BE e sobretudo o PCP se preparam para colocar no poder. De facto, BE e PCP sabem que o poder passou para a rua e que o "formal e frágil governo do PS" dela depende para se manter em funções!

Há gestos e actos simbólicos que dizem mais do que mil palavras: no final do debate parlamentar que derrubou o governo dos que ganharam as eleições livres em Portugal, Jerónimo de Sousa e Catarina Martins juntaram-se aos manifestantes "espontâneos" da CGTP fora do Parlamento, dizendo alto e bom som e de forma subliminar a António Costa e aos idiotas úteis do PS qualquer coisa como isto: "ora assumam lá o ónus da governação que nós temos a Rua como verdadeira vanguarda da mudança".

Mário Soares, o lider político que teve a coragem de traçar a fronteira da liberdade em 1975, e combateu na rua o totalitarismo da extrema esquerda em geral e do PCP em particular, tem andado ruidosamente silencioso neste tempo de tempestade política. Não é seu hábito calar-se, como sabemos! Todavia, no meio deste turbilhão deixou cair, na Covilhã, uma curta mas muito significativa expressão sobre o momento político que vivemos: "uma efectiva confusão". Ele lá sabe porquê!

António Ribeiro
(Texto escrito a 11 de Novembro de 2015)

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