domingo, 4 de janeiro de 2015

PARA QUE SERVE UM CONGRESSO?

    (escrito a 3 de Dezembro de 2014)

    O recente congresso do PS suscita-nos várias dúvidas e interrogações que importa esclarecer. Senão vejamos:
    1. O congresso serviu para o partido assumir, como lhe compete, novos compromissos com os seus eleitores e simpatizantes? Infelizmente não foi isso que aconteceu, atirando-se para as calendas, numa futura convenção (mais uns estados gerais???), o estudo e apresentação de propostas concretas para a governação do País. Mas insisto: não era suposto o congresso servir para isto mesmo?
    2. O congresso serviu para o partido fazer uma reflexão sobre o seu percurso, analisando erros e falhas cometidos, procurando identificar as causas dos mesmos e o desenho de estratégias e medidas para as superar em futura governação? Obviamente que não! Descobrimos sem surpresa que o PS não tem qualquer responsabilidade na situação em que o País se encontra, tendo ficado claro que a situação de bancarrota a que chegámos em 2011 não foi mais do que obra da alta finança e dos Países do norte da Europa, querendo castigar-nos, mais uma vez, pela nossa baixa produtividade! A duplicação da dívida pública em 6 anos de governação e os cofres vazios depois de desmandos e desvarios governativos foi uma conspiração dos inimigos e eternos adversários do PS!
    3. O congresso serviu para refrescar os órgãos nacionais e encontrar novos actores políticos menos dependentes dos lugares do Partido? Salvo honrosas excepções, que apenas confirmam a regra já habitual nestas circunstâncias, foi mais do mesmo! Ainda não consegui perceber a diferença entre as gentes do Sócrates e do António Costa!

    Afinal para que é que serviu o congresso?
    1. Para lamber as feridas da detenção de José Sócrates, rasgando os discursos de véspera e adiando sem data as homenagens de reabilitação pré-anunciadas nas primárias!
    2. Para festejar em comício o regresso ao País das maravilhas com promessas de novas despesa mas sem se justificar onde se pode cortar para as podermos sustentar!
    3. Para limpar as mãos como pilatos da actual situação em que vivemos responsabilizando em exclusivo o PSD, esse irmão político siamês, por todas as desgraças que nos atingem (como mudam as coisas em 3 anos...), como se o fardo que ora carregamos não fosse uma resultante de décadas de erros e desvarios governativos de ambos...
    4. Por último, a cereja em cima do bolo: o anúncio de uma desejada política de alianças à esquerda com partidos como o Bloco e PCP que são contra tudo aquilo que sustenta o nosso modelo de desenvolvimento no seio da Europa ocidental, isto é, o Euro, a própria Europa e a Nato! Bonito, tanto disparate e irresponsabilidade vai seguramente sair-nos muito caro.
    Em suma, mais do mesmo, a mensagem subliminar é sempre a mesma: o povo anda distraído e tem memória curta, pelo que podemos prometer agora aquilo que nunca conseguiremos cumprir e podemos negar agora tudo aquilo que antes fizemos, porque o tempo tudo cura e esquece!
    Enfim, nunca mais aprendemos...
    António Ribeiro

FIM DE REGIME?

(escrito a 22 de Novembro de 2014)

Já aqui escrevi que a lusa Pátria tem tido, de duzentos em duzentos anos, crises muito profundas que, não fora a resiliência deste nobre povo, já há muito havíamos desparecido como nação soberana e independente!
Em resumo cronológico temos:
- crise de 1383-1385: salvamos a soberania da Pátria "elegendo" como Rei o nosso D. João I, filho bastardo de outro Rei. A visão deste, e o génio militar e coragem de D. Nunes Álvares Pereira, permitiram-nos derrotar Castela em Aljubarrota;
- crise de 1580: D. Sebastião morre em Alcácer Quibir e não deixa descendência. Castela "convence" praticamente toda a nossa nobreza a respeitar a linha de sucessão que passava por Filipe II de Espanha, filho de D. Isabel de Portugal. Depois do reinado inteligente deste, vieram filho e neto que rapidamente se esqueceram dos compromissos assumidos com os portugueses. Em 1640, o povo saiu à rua, liderado pelo Rei D. João IV e recupera a nossa soberania e independência!
- crise de 1807: os exércitos de Napoleão invadem pela 1ª vez Portugal, tendo a Corte de D. João VI fugido para o Brasil, de modo a garantir a nossa independência. Só à fome morrem mais de 50.000 portugueses e o País vive sem Rei nem Roque durante décadas, funcionando praticamente como um colunato inglês até à 2ª metade do século XIX. Acresce a tudo isto a perda da joia da Coroa, o Brasil, em 1822. Anunciou-se mais uma vez o fim do País, mas a nação resistiu!
Cerca de 200 anos depois, tendo pelo meio dois momentos fundamentais com o fim da Monarquia em 1910 e a ditadura em 1974, a Pátria confronta-se novamente com uma crise profundíssima, que está longe de ser exclusivamente económica e financeira.
O problema é antes de mais do sistema político, passando pelos seus actores e respectiva organização.
O sistema político-partidário bloqueou e há muito que foi comprado pelos interesses instalados. Rodamos as cores partidárias no poder, mas os resultados são invariavelmente os mesmos.
O bloco central dos interesses, corporizado no chamado arco da governação (PS, PSD e CDS), que nos (des)governa há 40 anos, no essencial estabeleceu entre sí um sistema de coexistência em concubinato, trocando cheques e favores entre as nomenclaturas dirigentes.
A renovação e sobretudo a regeneração dos partidos políticos não é permitida pelos caciques instalados no poder, situação agravada pela fonte de recrutamento, as juventudes partidárias, estarem viciadas nos tiques e esquemas do sistema vigente.
Acresce que nos últimos tempos temos assistido a uma catadupa de casos judiciais com decisões de prisão efectiva ou simples detenções que sinalizam a podridão do sistema, e envolvendo figuras importantes do regime, como Armando Vara, Duarte Lima, José Penedos, Paulo Penedos, Ricardo Salgado (até há poucos meses o Dono Disto Tudo), os presidentes do IRN, SEF e SIS e, a cereja em cima do bolo, o próprio José Sócrates.
Ao mesmo tempo caía a família de referência do sistema financeiro português, os Espírito Santo, arrastando consigo alguns dos seus rapazes mais bem pagos, como Henrique Granadeiro ou Zeinal Bava, tendo este último sido condecorado recentemente pelo Sr. Presidente da República pela sua "genialidade como grande gestor da PT". O trambolhão da PT e a sua anunciada venda pelos brasileiros da OI veio mostrar de forma cristalina o embuste em que vivemos no plano mediático, político e empresarial, atirando-se uma das maiores empresas nacionais para uma situação de profunda fragilidade que não augura nada de bom para o País e para os seus trabalhadores.
Meus caros, a coisa fede brutalmente e, ou eu estou a ver mal isto tudo, ou isto anuncia fim de regime!
Faço votos que a justiça faça o seu trabalho com total independência e no escrupuloso respeito pelas leis da República. Já agora, dispensa-se espalhafato e circo no tratamento das coisas da justiça, sendo seguramente recomendável a discrição e o recato dos trabalhos e das decisões.

António Ribeiro

De vez em quando é mandatório voltar a Fernando Pessoa


    "Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência.
    Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
    Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de sí, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
    Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de sí mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
    Pedras no caminho?
    Guardo todas, um dia vou construir um Castelo..."
    Fernando Pessoa

O protesto da Fenprof ou o abuso das regras mais básicas do Estado Democrático


    Aquilo que os responsáveis pelos protestos na Guarda fizeram é simplesmente miserável, não tem outra qualificação!
    E não tem qualificação porque não respeita o dia de Portugal, ou seja, não respeita os portugueses, porque não respeita as Forças Armadas, porque não respeita a Presidência da República (podemos discordar do Professor Cavaco Silva, mas temos de respeitar a instituição democrática), porque não respeita sequer a pessoa humana, no momento em que ela é mais frágil e desfalece (os protestos continuaram mesmo depois do lamentável episódio que vitimou o Sr. Presidente da República!).
    Protestar, pois claro, onde quiserem e têm 364 dias para o fazerem dentro dos limites que a lei estabelece, agora no dia da Pátria, e durante o discurso do Presidente da República às forças armadas, peço desculpa, mas não!
    Ainda é o Dr. Mário Nogueira o representante sindical dos professores? Se eu fosse professor a esta hora estaria a sentir-me profundamente desconfortável, para usar um eufemismo! O disparate também tem limites!
    António Ribeiro
    (escrito a 12 de Junho de 2014)

Mais um aniversário, graças a Deus!


      Minhas queridas amigas e amigos, gostaria de agradecer a todos a lembrança do meu aniversário e os votos de parabéns.
      Para os que não sabem, quando vim ao mundo assinei um contrato de 100 anos, eventualmente renovável por mais 100 se nenhuma das partes o denunciar!
      Já cumpri quase metade do contrato, 49 anos é uma idade fantástica que só poderá ser superada pelos 50, 51 e por aí fora......
      Gosto da vida, daquilo que faço por aqui e, sobretudo, daquilo que ainda me falta fazer, que é tanta coisa... e seguramente boa! Sinto-me profundamente apaixonado por todos os projectos que ainda me faltam fazer e não costumo ser leviano em matéria de paixões!
      O melhor ainda está para vir e amanhã é mais uma etapa nesta fantástica caminhada.
      Obrigado a todos pela vossa amizade!

      abraço fraterno e até sempre
      PS: faço absoluta questão de continuar a receber os vossos votos de parabéns até, pelo menos, ao fim do 1º contrato de 100 anos. Quem desistir será severamente penalizado, com castigos e sevícias que, por uma questão de decoro, não me atrevo agora a reproduzir.

    António Ribeiro
    (escrito a 8 de Outubro de 2014)

FINALMENTE UM DUPLO PACTO DE REGIME!


(escrito a 22 de Novembro de 2014)

Já não era sem tempo!
Há anos que a sociedade portuguesa reclama um pacto de regime em questões essenciais, nomeadamente, na educação, na saúde e na justiça, retirando do contraditório político matérias essenciais para o nosso desenvolvimento colectivo!
Apesar dos múltiplos esforços neste sentido não foi possível encontrar, até ontem, um denominador comum aos ditos partidos do arco da governação!
Inclusivamente, há pouco mais de um ano atrás, o próprio Presidente da República procurou encostar o PSD, CDS e o PS às cordas, condenando-os a um entendimento que deveria estruturar um programa de governo com uma duração suficientemente longa que permitisse a sua implementação sem recuos de capricho e interesse aquando das mudanças de Governo.
A verdade é que após 40 anos de democracia nunca tal consenso foi atingido!
Todavia, e porque nada é definitivo na vida, ontem foi possível atingir, finalmente, o primeiro desses pactos de regime!
Sem prejuízo das suas "profundas" diferenças ideológicas e do "enorme" foço que separa os seus programas governativos, PSD e PS conseguiram entender-se ontem, com enorme sacrifício, numa matéria que exigiu profundo estudo e negociação entre as partes, ou seja, o restabelecimento das subvenções vitalícias para os detentores de cargos políticas após 12 anos de exercício...
Com efeito, não deve ter sido fácil este entendimento. Imagine-se a dificuldade que deve ter sido o nobel candidato a Secretário Geral do PS, do alto do seu imaculado pedestal, miraculosamente protegido pelos media da praça, vergar-se a um entendimento com o maléfico 1º Ministro que mais não faz mais do que espalhar o seu cinismo e maldade ao pobre povo!
Mas tudo se entende quando se trata de matéria do maior interesse nacional e colectivo, ficando-lhes o País eternamente agradecido pela sua capacidade de compromisso e generosidade!
Com efeito, PSD, CDS e PS culpam-se mutuamente no circo diário dos media da falta de diálogo da outra parte. Mas haja Deus que sempre há uma matéria merecedora de tão grande esforço e sacrifício de entendimento, ou seja, a reposição das já referidas subvenções vitalícias aos políticos!
Finalmente foi possível estabelecer um pacto de regime que proteja o bolso dos detentores do poder, mesmos quando o miserável povo come todos os dias o pão que o diabo amassou! Mas que importância tem isto quando o que está em causa é a proteção das elites governativas em prol do interesse da nação?
Mas felizmente que o pacto de regime não foi apenas o atrás referido!
Isto não há fome que não dê em fartura: depois do pacto de ontem eis que hoje somos surpreendidos por um outro que nega tudo o que acordaram ontem, classificando a iniciativa do dia pretérito, não como algo absolutamente imoral e ofensivo do povo que governam, mas antes como algo inoportuno face às dificuldades do momento.
Isto é, depois de mais uma miserável negociata que os partidos do centrão dos interesses fizeram ontem, e perante o clamor do pobre povo, dão o dito por não dito, não por terem percebido que aquilo que fizeram é absolutamente miserável e indigno de qualificação, mas porque, o povo está muito atento e não é oportuno consumar mais um negócio da nomenclatura que há demasiado tempo (des)governa o País!
E desta forma, a bem da Nação, se consuma o 2º pacto de regime em tão pouco tempo, ou seja, negar tudo o que defendemos ontem, clamar no Parlamento, e para otário ver, contra o disparate da proposta (sabe-se lá vinda de onde) do dia anterior, e esperar com sageza e recato pelo melhor momento de distração do povo para voltar à carga com as ditas subvenções vitalícias.
Hoje, depois de mais um duro dia de trabalho chego a casa e leio com estupefação, nas mensagens escritas que agora cobrem o fundo do écran, que PSD e PS aplaudem a retirada da proposta de reposição das subvenções vitalícias!
Fiquei muito mais descansado e, seguramente, irei dormir com outro ânimo, não sem antes agradecer a Deus a generosidade e o desinteressado contributo que PS e PSD hoje deram à Nação e aos portugueses!
Sou eu que estou a ficar louco ou isto fede a fim de regime?

António Ribeiro